reportagem especial

A história da mãe que perdeu o filho e do filho que perdeu a mãe

Maurício Araujo

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Fotos: Renan Mattos (Diário)

Sozinha. É assim que se sente a aposentada Inês Maria Stangherlin, 71 anos, após perder o único filho para a Covid-19. Diogo Stangherlin tinha 35 anos quando precisou ser atendido na UPA. No dia seguinte, já no Hospital Regional, o licenciado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) morreu. Diogo tinha doença neurodegenerativa e cardíaca. Em uma reportagem especial, o Diário vai além dos números de mortes e mostra como é a rotina de quem trabalha nas funerárias e a história de quem perdeu um familiar, além de falar sobre como é o luto em tempos pandêmicos. 

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Na tentativa de superar a dor, Dona Maneca, como é conhecida entre familiares e amigos, procura manter o jardim da residência sempre organizado. Mexer na terra é uma distração para se manter firme nos dias mais pesados. Lembrar das superações do filho ao longo da vida a enchem de orgulho. E não é para menos. Diogo tinha Ataxia de Friedreich, uma doença neurodegenerativa e, por conta disso, precisava de cadeira de rodas. Mesmo com todas as dificuldades, formou-se em 2015, já sem a presença do pai, falecido em 2011. Com o avanço da doença, perdeu a visão, mas, segundo a mãe, nunca deixou de ter o brilho no olhar, o carisma e a vontade de viver.

- Eu estou sozinha, perdi meu filho para a Covid. A pessoa que sempre esteve comigo, que eu amava acima de tudo. Hoje vivo só com as lembranças da pessoa amada, alegre, sensível e educada. Dói tanto que é difícil definir.

Assim como a maioria das vítimas da Covid-19, não houve velório. O corpo de Diogo foi cremado, e, conforme Dona Maneca, as cinzas estão junto as do pai.

SEM RITUAL DE DESPEDIDA 
No domingo do dia 21 de março, Elaine Flores Dias, 65 anos, sentiu falta de ar. A família recorreu à Unidade de Pronto Atendimento (UPA). No dia seguinte, com diagnóstico positivo para o coronavírus, ela foi para a ala Covid da instituição. Dois dias depois, o filho Ricardo Helvin Jahnke, 38 anos, levou um celular à mãe para que pudessem se comunicar com mais facilidade. Na sexta-feira, dia 26, Elaine ligou para o filho, pedindo algumas frutas, que prontamente foram levadas. Por a paciente estar em um espaço restrito, não houve comunicação física. Aquela sexta foi a última vez que mãe e filho se falaram.

No sábado, Elaine piorou e precisou ser intubada, sendo transferida, no dia seguinte, para um leito de UTI em Rosário do Sul. Na segunda-feira, dia 29, após sucessivas paradas cardíacas, a aposentada morreu e foi sepultada em São Pedro do Sul no dia 30 de março. Aos familiares restou a dor e a saudade da mulher alegre e carinhosa.

- Nós deixamos minha mãe na UPA e buscamos dentro de um caixão em um hospital de Rosário do Sul. Não nos despedimos como ela queria, não vimos mais ela. É uma dor muito grande. Vão ficar as memórias e boas lembranças, mas é difícil - lamenta Ricardo. 

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